quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crises

Não posso perder a ocasião para fazer um pouco de piada com a situação da "Economia Mundial" e as peripécias do "Deus Mercado". Lendo a edição eletrônica do New York Times (www.nytimes.com) desse dia 29/10/2008, uma manchete se destacou: Consumers Feel the Next Crisis: Credit Cards. Vamos nos preparar para mais uma etapa!

Uma componente das loucuras atuais reside nas expectativas que os agentes econômicos depositam nos rumos da gestão da "crise". Grosso modo, muito se espera da mão visível de Washington, de Londres, de Paris, de Berlin, de Tokyo, e outras, para que tudo se acalme. Todos os dias, portanto, os agentes econômicos ficam atentos ao que se produz de notícias nesse mundo intrincado da Economia.

Os palpiteiros de plantão ganham destaques da mídia. Posam de adivinhadores com um ar solenemente ensaiado:
- "O mundo não irá acabar!". Fico contente com isso!
- "Os mercados (plural!) irão reagir". Certamente, com aquela ajuda de sempre!
- "A bolha estourou". What???
- "O governo deve fazer o dever de casa". Alguém gazeteou a aula!
- " O Governo deve cortar gastos". Alguém matou aulas a semana inteira!
- "O Governo tem que tomar medidas para que o crédito retorne". Hummmm!

Nessas horas gosto de recomendar uma leitura (ou uma releitura mesmo) de um livro de John Kenneth Galbraith - "A Economia das Fraudes Inocentes" (Companhia das Letras, 2004), R$32,00). São apenas 84 páginas para deleite puro e para apreensão de idéias que possibilitam uma avaliação da "crise". Há um capítulo fundamental: O mundo das finanças. Não mais que cinco páginas elegantemente escritas por um dos meus Gurus (como Economista tenho esse direito!).

Uma parte do texto:

" Vamos agora a uma área bem conhecida de fraudes inocentes. E aqui há algumas que não são tão inocentes. É o mundo das finanças, dos bancos, das corporações financeiras, do mercado de seguros, dos fundos mútuos, das instituições de orientação e aconselhamento financeiro. A fraude começa com um fato determinante, inegavelmente óbvio, e que não tem como ser completamete ignorado. É que o desempenho futuro da economia, a passagem de bons tempos para a recessão ou a depressão - ou o contrário -, não pode ser antecipado. Existem muitas previsões, mas nenhuma certeza. Todas essas previsões envolvem uma combinação complexa de ações governamentais incertas, comportamento desconhecido por parte de empresas e de indivíduos e, de modo mais amplo, a paz e guerra". (...) "Apesar disso, no mundo econômico e em especial no universo financeiro, fazer previsões sobre o que não se sabe e sobre o que não é sabível é uma ocupação apreciada e bem paga. Pode ser a base de uma carreira bem remunerada, embora muitas vezes breve. Surgem daí avalaiações alegadamente fundamentadas a respeito das perspectivas da economia e sobre os participantes individuais e as empresas envolvidas. Homens e mulheres engajados nessa carreira acreditam saber o que não é sabido - e há quem acredite neles; admite-se que a pesquisa cria esse conhecimento.. uma vez que a previsão é aquilo que os outros querem ouvir, aquilo que querem lucrar e aquilo que lhes dá retrorno, a esperança e a necessidade encobrem a realidade. Assim, no mercado financeiro comemoramos e, Às vezes, damos boas-vindas a erros fundamentais".

Galbraith escreveu o texto em 2004, portanto, não muito longe desses dias tenebrosos.

A mão invisível do "Deus Mercado" mostra-se cada vez mais assanhada e, do outro lado, a patuléia começa a sentir quem será chamado para debelar o incêndio. Curiosamente, ou não, quando assisto aos programas jornalísticos e leio as colunas "especializadas" de jornalistas que cobrem a área de economia, deparo-me com pessoas tentando explicar o inexplicável. Na maioria das vezes tentam surfar as marolas de cada dia: a Bolsa subiu em função de...; a Bolsa apresentou queda em função de...; a bolsa abriu com tendência de...; e assim por diante.

Quando iniciou o processo de intervenção dos governos para "salvar" o mundo do Apocalipse em curso, alguns proeminentes jornalistas (talvez uma ofensa aos jornalistas de verdade), rapidamente sacaram um arsenal de estultices que dispõem e dispararam: Isso não significa estatização! O mercado ainda é soberano. A turma da esquerda pode sossegar porque o Estado é apenas acessório!" Curiosamente, pelo que observei, as esquerdas estão bem quietinhas dada a dimensão da bagunça atual. Os cães de guarda do "Deus Mercado" é que se apressaram em apresentar argumentos para a necessidade de intervenção do Estado.

Uma famosa e esperta comentarista da TV brasileira, mostra-se, de fato, excelente equilibrista: caminha na corda bamba como poucos. Num dia escancara que o Mercado se resolve, noutro dia mostra-se convencida de que ele, o Mercado, precisa da ajudazinha do Estado! Psicanálise faria bem. O Mercado é bi-polar, pelo diagnóstico dos "cometaristas". Outros "especialistas" apontam que o Brasil está sofrendo menos com a crise em função das "artes" operadas na economia na gestão FHC. Caso a crise se alastre com mais força e afogue os imprevidentes nessas terras brasilis, bem, a culpa será do metalúrgico...

E tome bola de cristal. Em função da matéria do New York Times arriscarei um palpite, pois não sou de ferro: a próxima crise será de toilet paper! A razão: com tantas cagadas (peço desculpas pelo chulo), não sobrará para ninguém! Previnam-se, pois.

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